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ENTRETENIMENTO, CULTURA E ARTE

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Uma caminhada de sucesso!!

Após anunciarmos em janeiro deste ano os testes para atores de uma novela que se chamaria Sete Vidas, o cenário cultural de Sete Lagoas começou a mudar...
Vamos começar pelo princípio, eu Capucci Junior nunca entendi o porquê das pessoas chegarem para mim dizendo...


"Cara, seu trabalho é muito bom, você deveria ir embora de Sete Lagoas!".
Me pergunto...
Por que eu teria que ir embora se já moro aqui há 27 anos?
E se fosse embora daqui, iria fazer o que? Estudar em uma boa faculdade e fazer comerciais para TV, ganhar dinheiro, gastar, criar família e morrer...
Eu vim parar em Sete Lagoas em 30 de Abril de 1984, com 14 anos de idade, deixei toda minha infância em Brasília, tive que vencer a saudade e pensar em como sobreviver em uma cidade tão pequena e diferente como Sete Lagoas.
Comecei a namorar e logo consegui um emprego no jornal Boca do Povo, me destaquei como cartoonista e diagramador, mas eu queria mais e continuei a colaborar com o Jornal Sete Dias fazendo Charges e ao mesmo tempo trabalhando durante o dia na antiga Gráfica Roch’art (atual Mirante gráfica e editora) e à noite com meu Irmão Luiz Roberto (Zoberto) em serigrafia, de 1990 a 1998.
Em 99 resolvi fazer uma série de quadrinhos para jornais estrangeiros de um personagem chamado Bonny Lony, foi aí que em 2000 resolvi fazer um pequeno curta de animação de Bonny Lony e totó e ganhamos o Festival Animamundi de 2001 usando um pobre computador Pentium 133 com 64 MB de ran, participamos também do festival nos dois anos consecutivos.
Era um grande sonho desde que me mudei para cá, fazer cinema e TV e junto com meu irmão, resolvemos entrar para faculdade de comunicação, eu simplesmente perdi a paciência com o “sistema” e deixei que meu irmão continuasse o curso enquanto eu continuava a criar.
Tenho que abrir um pequeno parêntese aqui...


Não que eu seja contra fazer uma faculdade...

Por favor não me julguem errado, eu aprendi muito com os professores pelos corredores, sentávamos e discutíamos técnicas e teorias que muitas vezes não estão nos livros e nem na grade curricular, observações do dia-a-dia, experiências que funcionaram e outras que deram errado... E o mundo da criação é assim... Tentativa e erro na maioria das vezes.

Não existe receita de bolo!

Eu precisava praticar aprender e não queria perder tempo, tinha que ser rápido demais para aguardar 4 anos de teorias, foi aí que decidi continuar aprendendo fora da instituição.
A novela Sete Vidas veio dois anos após o longa Segredos do Porão, mais uma vez ganhei tapinha nas costas e o velho conselho... Vai embora daqui, em São Paulo ou Rio, você vai ganhar muito dinheiro.
Eu queria que os garotos como eu fui, que querem ser alguém na vida e acreditam que não tem valor nenhum porque os pais acham que qualquer modalidade de arte não dá dinheiro, estuda em escola do governo, mora na periferia e seu nome não é mais um daqueles que fundaram a cidade, ainda assim, acredite... Um dia vai dar certo!!


Morávamos na periferia de uma cidade da periferia de Brasília chamada Taguatinga, nós nunca estudamos em escola particular, meu pai era caminhoneiro e ralava paca, minha mãe sempre lutou pra nos manter bem na escola e nunca tivemos uma casa própria até meados de 90.
Quando eu e meu irmão iamos dormir, ficávamos conversando até tarde da noite tentando descobrir uma forma de ganhar mais dinheiro para comprar uma casa para nossos pais, naquela época chegamos até a pensar em montar um sacolão... rsrsr

Acho que o destino não era esse mesmo!!

Sempre procurei trabalhar em um ramo próximo ao que eu gostava como a criação, assim pude praticar sempre, isso foi muito bom pro meu aprendizado de uma forma geral, o sucesso é misterioso e te testa o tempo todo pra ver o quanto você é merecedor ou não, se você por acaso acha que o que está fazendo é sacrifício, ou muito trabalhoso, com certeza é porquê você está fazendo o oposto do que realmente deveria fazer, simples assim.

Quer um bom exemplo?

Se você está jogando uma partida de futebol, você sua, cansa, quase morre em campo, leva chutes, toma até chuva de granizo, mas se alguém quiser colocá-lo no banco você xinga... O seu trabalho deveria ser assim e na maioria das vezes, o trabalhador mal espera que o relógio apite para ir fazer algo mais “prazeroso”...
Se as pessoas insistirem em lidar com a vida profissional sem pensar em adquirir mais conhecimento, fazendo o suficiente e repetindo tudo que já foi feito, simplesmente serão apenas mais um no estrangulado mercado de trabalho.
Voltando a falar de Sete Vidas... É normal que uma produtora de filmes estabelecida no interior, faça o mesmo que todos fazem... Festas, casamentos e alguns pequenos comerciais para TV. O mundo de hoje é extremamente concorrido e se você estuda na mesma faculdade que seus concorrentes, é meio óbvio que o mercado vai ser escasso para tantos alunos que se formarem, quando eu percebi a forma com que estávamos sendo conduzidos como sonâmbulos em fila indiana rumo ao fosso, acreditando que o diploma é algo como a espada do Rei Arthur, algo milagroso que resolve imediatamente todos os problemas sócio-econômicos do indivíduo, eu resolvi pensar diferente.
Fui chamado de louco várias vezes, principalmente por deixar meu curso de comunicólogo no quarto período após investir tanto dinheiro, (que era pago com o trabalho que eu deveria fazer e não fazia por que não tinha tempo por ter que estudar a noite e fazer trabalhos durante o dia). Ao mesmo tempo percebi ao apresentar um trabalho que o então coordenador de comunicação do quarto período não sabia a diferença entre uma escrita em latim de uma escrita grega, em outro momento minha professora de história da arte nem sabia onde Van Gogh nascera, foi então que resolvi pegar meu desejo de fazer cinema e TV e fui continuar meus experimentos observando exemplos mais precisos na internet.
A idéia de se fazer uma novela partiu da frustração de produzir um longa-metragem de suspense e quase ninguém ter assistido. Ainda existe muito preconceito para com o cinema nacional??? Credo, só pode ser pornografia... O que? Produzido em Sete Lagoas?? Lógico que não presta!!
Eu não podia permitir que o trabalho de toda a equipe acabasse sem o retorno que eu gostaria, ver Segredos do Porão em uma grande emissora de TV aberta, seria o máximo, mas não conseguimos nem sua distribuição para todo o Brasil, se eu fosse um grande cabeça dura, talvez tivesse tentado fazer outros longas e no final da vida virar um grande rabugento como Arnaldo Jabor, que critica tudo e a todos, provavelmente resultado de suas tentativas cinematográficas do passado.

Foi ai que me lembrei...

Novela é algo que está na veia do brasileiro, algo que se arrasta por três ou quatro meses diariamente, fazendo um constante efeito virótico no espectador, que comenta com os familiares e vizinhos como se aquilo fosse a vida real, algo que faz parte do dia-a-dia da dona de casa desde a década de 30 com as antigas rádio novelas da Radio Nacional.
O próximo passo foi desenvolver algo com a cara e paisagem do cotidiano de uma cidade simples que jamais se imaginaria na pele das grandes produções, causando nas pessoas um mix de curiosidade e orgulho, fazendo os cidadãos se sentirem respeitados e nivelados com as grandes capitais da teledramaturgia.
O anuncio foi feito e apareceram os corajosos candidatos a trabalharem no elenco e em apenas 4 meses, a novela foi produzida exibida e atingiu níveis de audiência tão altos que chamaram a atenção de TVs em cadeia nacional através da internet, assistida em todo o Brasil e mais 190 cidades em todo o mundo.
Sete Vidas é hoje um marco na teledramaturgia brasileira, pois levanta a bandeira da independência cultural perante o cenário já ocupado pelas grandes produções cariocas e paulistas por mais de 40 anos.
Sete Vidas é hoje a primeira novela a ser exibida por uma emissora aberta em Minas Gerais, Para produzir os 64 capítulos de Sete Vidas, nossa produção gastou o equivalente a 10% do que se gasta para produzir apenas um capítulo em uma grande emissora como Globo, Record ou SBT.
Acredito que o segredo para este verdadeiro sucesso é ter humildade suficiente para reconhecer que o trabalho deve ser feito para o público e não para o criador... Não temos o direito de empurrar produções aos espectadores simplesmente porque aprendemos que o correto é assim ou assado, o público não é bobo e só compra o que realmente gosta independente de ter custado muito, ou estar dentro das normas da Gestalt.
Ser observador foi o ponto crucial para criar um bom roteiro, dirigir o elenco, acertar a iluminação, configurar as câmeras, editar os vídeos e escolher cada trilha de acordo com cada cena. Quando digo observador, digo que aprendi muito assistindo telenovelas e observando as diferenças entre produções antigas e atuais.
Sempre tomando o cuidado necessário para que nossas edições não se assemelhassem a produções de casamentos.
Bom pessoal, essa é a história da construção de um sucesso chamado Sete Vidas, que começou décadas atrás e é o grande divisor de águas na teledramaturgia atual, que começou pequenina e provou que tudo é possível, bastando ser honesto com seus princípios e para com os outros, acreditar no desejo, observar aos grandes mestres e nunca desistir!

Capucci Junior

Um comentário:

  1. Só me cabe aqui renovar minha admiração pelo seu trabalho e meus parabéns! VALEU!!!

    João Bréscio - CliqueUp - 9129-8580

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